Preço do azeite dispara, e inflação do produto é a maior em 7 anos; entenda
O custo desse item, que é praticamente todo importado, tende a continuar em alta nos próximos meses, segundo especialistas
Economia|Do R7

Temperar a salada ou refogar legumes, entre outras atividades da cozinha, ficou mais caro para os brasileiros que usam azeite.
O preço do óleo vegetal produzido com azeitonas, ou olivas, disparou nas gôndolas dos supermercados, e a inflação acumulada do produto em 12 meses chegaou a 26,69%, segundo os dados de outubro do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial. Esse é o maior patamar em sete anos.
O aumento no preço médio do azeite no Brasil ocorre na contramão dos demais itens da cesta básica. No acumulado em 12 meses até outubro, a inflação oficial do país ficou em 4,82%, enquanto alimentos e bebidas registraram alta de apenas 0,48%.
A má notícia para os amantes do azeite é que, talvez, o produto não tenha chegado ainda ao ápice do preço, ou seja, deve continuar a subir. Entre os fatores de pressão do custo estão as questões climáticas, que têm afetado as plantações de oliveiras, os impactos causados pela guerra entre a Ucrânia e a Rússia e também a questão cambial. Para todos os casos, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, não há perspectiva de solução no curto prazo.
O professor do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), Felippe Serigati, lembra que o conflito geopolítico do Leste Europeu, iniciado em fevereiro de 2022, foi um dos primeiros fatores para a disparada do preço do azeite, já que a Ucrânia e a Rússia são os maiores exportadores de óleo de girassol do mundo, responsável por cerca de 80% da produção global. Com a guerra, a escassez do produto acabou pressionando o preço dos demais óleos vegetais, como é o caso do azeite. “O mercado de óleos vegetais foi fortemente impactado pelo conflito”, diz Serigati.
Outro elemento que contribuiu para a disparada nos preços do azeite no país foi o dólar. O professor da FGV mostra que a volatilidade da moeda americana em relação ao real também pressionou o preço final do produto, já que a maioria do consumo nacional é de azeite importado. “O câmbio teve uma grande variação neste ano. Nós vimos o câmbio operar abaixo de R$ 4,80, mas também perto de R$ 5,20. Toda essa volatilidade se refletiu no preço dos produtos”, avalia Serigati.
Dados do Conselho Internacional de Azeite de Oliva mostram que o Brasil é o terceiro maior importador mundial de óleo de azeite e azeite extravirgem, com 8% de toda a produção global, atrás apenas da União Europeia (17%) e dos Estados Unidos (35%), que estão na segunda e primeira posição do ranking, respectivamente.
Seregati lembra que a produção local de azeite ainda é pouco expressiva e, por isso, não teve relevância na formação de preço do produto, apenas acompanhando as flutuações do mercado internacional. “O que o Brasil produz é apenas uma ‘franja’ do nosso consumo.”
• Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu WhatsApp
• Compartilhe esta notícia pelo WhatsApp
• Compartilhe esta notícia pelo Telegram
• Assine a newsletter R7 em Ponto
Para o executivo-chefe de investimentos da TAG Investimentos, André Leite, este tem sido um ano com eventos diretos na variação cambial, e isso não deve ser pacificado no curto prazo. Em relação ao câmbio futuro, a relação comercial entre o real e o dólar dependerá bastante de fatores externos, como as decisões do Fed (o banco central americano) em relação aos juros. “Nós vamos ficar muito dependentes do cenário externo”, diz Leite.
Alinhado à volatilidade do câmbio e ao conflito internacional no Leste Europeu, mais um elemento ajudou a pressionar os custos de produção dos azeites no mundo. A economista da Planejar Fernanda Melo acrescenta que, com as sanções econômicas impostas à Rússia, que é a maior produtora de defensivos agrícolas, o preço do fertilizante também subiu, encarecendo ainda mais a safra das azeitonas. “Esse é outro fator que, combinado a uma situação climática não favorável, acaba afetando o preço também”, afirma.
Aquecimento global
Um terceiro fator determinante na curva de preços do azeite em solo nacional é o aquecimento global, com as ondas de calor extremo que atingem todo o globo, o que inclui os principais produtores do óleo vegetal, como Espanha, Itália, Grécia, França e Portugal. Por causa das mudanças climáticas, produtores europeus enfrentam dificuldades para manter a produção de azeitonas, que sofrem com a seca e as altas temperaturas.
O professor da FGV explica que, neste ano, o El Niño mais forte que o de costume foi um golpe extra nas oliveiras, o que reduziu a safra e deixou menos fruto para a produção do azeite. Ele ainda lembra que a situação é parecida com o cenário vivido no mercado nacional em 2015, momento em que o óleo também registrou fortes altas. “O ano de 2015 tem características parecidas com 2023. O país também tinha problemas cambiais, além de uma seca forte causada, justamente, pela incidência do El Niño.”
À época, em dezembro de 2015, o azeite fechou o ano com uma inflação acumulada em 12 meses de 22,75%, com uma trajetória de alta que se manteve nos primeiros meses do ano seguinte. Em julho de 2016, a alta acumulada em 12 meses atingiu 31,24%. Para o professor do FGV Agro, essas semelhanças e as incertezas no mercado futuro podem repetir o cenário de novas altas. “Não seria uma surpresa se nos próximos meses nós registrássemos novos aumentos no preço do azeite.”
O Balanço Geral Manhã falou sobre o atual papel do azeite na eterna polêmica de como cozinhar de maneira mais saudável. Apesar de ser o queridinho dos brasileiros, esse óleo vegetal pode se tornar um vilão para quem quer emagrecer, além de ser um produ...
O Balanço Geral Manhã falou sobre o atual papel do azeite na eterna polêmica de como cozinhar de maneira mais saudável. Apesar de ser o queridinho dos brasileiros, esse óleo vegetal pode se tornar um vilão para quem quer emagrecer, além de ser um produto cada vez mais caro no mercado. Confira dicas de especialistas sobre o uso e consumo do azeite