Entenda por que a China está construindo estação submarina a 2.000 m de profundidade
Projeto inédito busca entender impacto ambiental e potencial energético das reservas de hidratos de metano sob águas disputadas
Internacional|Do R7

Nas profundezas do Mar da China Meridional, a China está construindo a primeira estação submarina de longo prazo para estudar uma fonte de energia pouco conhecida e potencialmente revolucionária: os hidratos de metano, também chamados de “gelo combustível”.
Essas formações cristalinas, que contêm enormes reservas de gás natural em estado congelado, podem superar em quantidade as reservas de petróleo do Golfo Pérsico.
A estrutura ficará a cerca de 2.000 metros de profundidade, em uma área onde o metano vaza lentamente do fundo do oceano, sustentando ecossistemas únicos compostos por vermes tubulares, moluscos e comunidades microbianas que vivem da quimiossíntese. A estação permitirá que seis pesquisadores permaneçam por até 45 dias no ambiente submarino para investigar as características e os riscos dessa fonte energética.
Estima-se que os hidratos de metano do Mar da China Meridional contenham cerca de 80 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo, superando as 50 bilhões do Golfo Pérsico, o que poderá alterar o equilíbrio geopolítico global em energia. Contudo, especialistas alertam para o perigo da extração inadequada, que pode desencadear vazamentos massivos de metano — um gás com potencial de aquecimento global 25 vezes maior que o dióxido de carbono — e causar danos irreparáveis ao ecossistema marinho.
A professora Wang Shuhong, da Academia Chinesa de Ciências, destaca que o projeto não visa apenas a exploração energética, mas também a preservação dos oceanos. Segundo ela, os ecossistemas da região onde a estação vai ser instalada são frágeis e antigos, e qualquer perturbação pode colapsar toda a cadeia alimentar local.
Equipado com submersíveis, o complexo científico permitirá monitorar os fluxos de metano, testar técnicas de extração segura e catalogar espécies bioluminescentes e crustáceos únicos.
Os hidratos de metano armazenam 160 vezes mais volume de gás em sua forma congelada, e os cientistas calculam que as reservas globais dessas formações superam o conteúdo energético de todos os combustíveis fósseis combinados. A extração, porém, é extremamente delicada, pois depende de condições rigorosas de pressão e temperatura, e um erro pode provocar deslizamentos submarinos e acidificação dos oceanos.
A estação ampliará o tempo de estudo dos ambientes submarinos, ando dos atuais 15 horas para até 45 dias contínuos, o que representa um avanço significativo para a pesquisa profunda. O projeto deve entrar em operação até 2030.
A iniciativa faz parte da estratégia chinesa de garantir segurança energética enquanto busca alternativas mais limpas para substituir o carvão, seu principal combustível. No entanto, a presença da estação em águas disputadas internacionalmente levanta suspeitas entre países como Estados Unidos e membros da ASEAN, que veem o projeto como uma forma de reforçar as reivindicações territoriais chinesas.