Quem são as mulheres que foram xingadas por embaixador de Kim Jong-un na ONU
Duas norte-coreanas deram seus depoimentos pessoais em uma sessão plenária nas Nações Unidas sobre direitos humanos
Internacional|Do R7

Duas mulheres que fugiram da Coreia do Norte para o Sul deram depoimentos comoventes em uma sessão plenária na ONU nesta terça-feira (20). Após as falas, o embaixador da Coreia do Norte, presente na sede da organização em Nova York, chamou as fugitivas de ‘escória humana’.
Na ONU, a norte-coreana Gyuri Kang disse que seus amigos foram executados publicamente por assistirem e compartilharem dramas da televisão sul-coreana. Eun-joo Kim, por sua vez, descreveu como seu pai morreu de fome e ela foi traficada na China.
Era a primeira vez que as Nações Unidas realizavam uma reunião focada exclusivamente nas violações dos direitos humanos na Coreia do Norte.
Leia mais
Mortos por ver drama sul-coreano
“Três dos meus amigos foram executados publicamente. Dois foram mortos por distribuir dramas sul-coreanos. Um tinha apenas 19 anos”, disse Kang à assembleia.
Ela disse que teve sorte de ter o a informações sobre o mundo exterior e de ter recebido um pendrive com dramas da TV sul-coreana, o que ela achou “tão revigorante e mais confiável do que a propaganda estatal da Coreia do Norte”, embora soubesse que ser pega poderia significar a morte.
Em 2020, a Coreia do Norte aprovou a Lei de Ideologia e Cultura Antirreacionária, impondo penas severas — incluindo a morte — para quem assiste ou distribui mídia estrangeira. Em 2021, o ditador Kim Jong-un emitiu uma diretiva para impedir que jovens adotassem a fala, a moda e os penteados sul-coreanos. Depois, a Lei de Proteção da Língua Cultural restringiu ainda mais as influências culturais sul-coreanas e estrangeiras.
Kang foi banida para o campo quando tinha 5 anos por causa das crenças religiosas de sua avó. Em 2023, ela fugiu da Coreia do Norte a bordo de um barco de madeira de 10 metros com sua mãe e tia.
Vendida na China
Eun-joo Kim, por sua vez, fez um relato marcado por perdas e exploração.
Quando Kim tinha 11 anos, sua mãe e sua irmã mais velha partiram, dizendo que estavam indo em busca de comida. Durante seis dias e seis noites, Kim contou de um a 100 repetidamente, à espera do retorno delas.
Quando elas finalmente voltaram, sua mãe lhe disse: “Se você vai morrer de qualquer maneira, é melhor levar um tiro ao cruzar a fronteira de três quilômetros do que morrer de fome aqui”.
Em seu relato nas Nações Unidas, Kim disse que perdeu o pai para a fome e, em seguida, em 1999, fugiu com a mãe e a irmã através do rio Tumen, que delimita uma grande parte da fronteira norte da Coreia do Norte — apenas para ser traficada após chegar à China.
Ela, sua mãe e irmã foram vendidas a um chinês pelo equivalente a menos de US$ 300. Três anos depois, elas foram presas e enviadas de volta para a Coreia do Norte. Em 2002, escaparam novamente através do rio.
Já se aram mais de 25 anos desde que Kim fugiu. “Um dia, espero retornar à Coreia do Norte, de mãos dadas com minhas filhas, para mostrar a elas uma Coreia do Norte não definida pelo controle e pelo medo, mas cheia de liberdade e esperança”, disse.
Reação norte-coreana
O embaixador da Coreia do Norte na ONU, Song Kim, não demonstrou qualquer reação durante os depoimentos. Quando se levantou para falar, descreveu a situação como uma conspiração política e chamou as mulheres como “escória humana”.
“O que é ainda mais deplorável é o convite da escória humana que traiu até mesmo seus próprios pais e famílias. A delegação da RPDC rejeita categoricamente e condena veementemente esta reunião, que foi convocada com o objetivo político de minar a dignidade e a soberania do nosso Estado”, disse. RPDC é referência ao nome oficial da Coreia do Norte: República Popular Democrática da Coreia.
China e Rússia também criticaram a reunião, dizendo que ela foi realizada sem o consentimento da Coreia do Norte e questionaram sua legitimidade.
Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp